_Infelizmente, ainda não houve melhoras significativas, senhora.
_Tenho fé que logo esse pesadelo acabará, doutor.
_Também espero que sim, senhora. Agora, com licença, vou deixá-las a
sós._disse o médico, caminhando em direção à porta do quarto.
A mulher, com o semblante sofrido, observava a filha deitada sobre o
leito do hospital. Dois meses haviam se passado, e a moça continuava dormindo,
como se estivesse perdida em seu próprio mundo. De fato.
_Me parece que está melhor hoje... Não é mesmo, querida? _dizia
Clarice, enquanto passava os dedos suavemente entre os cabelos de Cecília.
Cecília apenas dormia.
_Mamãe hoje está muito feliz. Seu pai finalmente conseguiu aquele
aumento no salário que tanto esperávamos, você se lembra? Torcemos tanto por
isso, não foi? Agora poderemos investir ainda mais no restaurante. Está tudo
bem por lá, mas continua tão vazio sem você, minha filha... Quando você vai
acordar, querida? Mamãe sente tantas saudades...
De repente, ouviram-se alguns toques na porta do quarto. Uma visita
tão inesperada para Clarice quanto seria para a própria Cecília.
_Fernando?_disse a senhora, surpresa.
_Olá, Clarice, como vai?
_Bem, na medida do possível. Mas sempre com muita esperança. Você me
parece bem melhor.
_Estou sim, obrigado. Mais alguns exames de rotina e poderei
finalmente tirar o gesso e voltar a trabalhar normalmente, segundo o médico.
_Fico muito feliz.
Fernando se aproximou da cama e observou Cecília. Um aperto no peito
fez com que necessitasse respirar fundo para recuperar o ar.
_E como ela está?
_Dormindo, como um anjo... O médico diz que seu estado continua
estável, mas para mim, ela está melhor a cada dia. Fico contente que tenha
vindo visitá-la.
_Desculpe não ter vindo antes, não estava preparado ainda.
_Entendo. Cecília iria gostar muito de saber que esteve aqui.
“Não tenho tanta certeza. Mas eu precisava vê-la”. Fernando não sabia
mais o que fazer. Uma confusão de sentimentos havia tomado conta dele desde
aquele dia. Um dos dias mais horríveis de sua vida. O dia que perdera não
apenas a consciência por alguns instantes, mas a grande oportunidade de contar
a verdade a Cecília.
_Está tudo bem, Fernando?_perguntou Clarice, interrompendo as
lembranças que insistiam em atormentá-lo cada dia mais.
_Sim... Acho que sim. Não se preocupe, às vezes me pego viajando em
pensamentos..._dizia, enquanto vira-se para pegar um ramo de flores que havia
deixado sobre uma mesa que ali estava._Trouxe essas flores...
_Rosas! As preferidas da minha filha... Ai!_Clarice havia se machucado
com um dos espinhos das flores._Que descuidada! Com licença Fernando, vou ao
banheiro lavar essa ferida. Você se importa de ficar um pouco com ela?
_De modo algum.
Assim que Clarice deixou o quarto, Fernando caminhou rumo à Cecília
segurando o ramo de flores.
_Olhe, minha querida, trouxe as rosas vermelhas mais lindas que
encontrei especialmente para você.
Fernando deixou as flores sobre a mesa e pegou suavemente na mão da
amiga.
_Sabe, tem tantas coisas que não ficaram esclarecidas entre nós.
Queria que você soubesse que eu... Eu realmente preciso de você, Cecília.
O rapaz respirou fundo novamente. Desta vez, no entanto, as lágrimas
lhe traíram.
_Posso parecer extremamente egoísta ao dizer isso, mas... Pra ser
sincero, saber que você estava sempre ali, ao meu lado, me dava forças para
seguir em frente. Sem você não há para quem correr, não há quem abraçar... Sabe
aquele abraço sincero que só você sabe dar? Você é única, Cecília. Você não
sabe o quanto é importante para mim. Eu pensava que pessoas eram
insubstituíveis até conhecer você. Queria tanto ter a oportunidade de dizer o
quanto sinto sua falta, o quanto fui tolo em te deixar partir... O quanto sinto
por aquele acidente... Acidente que eu mesmo provoquei, não era para você estar
lá... Ah, minha querida...
Para a surpresa do rapaz, Cecília apertou os olhos, exibindo um
aspecto de dor e desespero.
_Cecília?! Você está... Acordando?? O que está acontecendo?? _dizia
Fernando, enquanto apertava bruscamente o botão responsável por chamar as
enfermeiras.
A moça continuou com os olhos apertados por mais alguns momentos, mas
depois seu rosto transfigurou-se para um aspecto sereno.
_Cecília?? Cecília?? _dizia Fernando, enquanto apertava a mão da moça
e checava os batimentos de seu coração.
Clarice caminhava pelo corredor quando viu duas enfermeiras correndo
em direção ao quarto de sua filha. Desesperada, correu ao encontro delas e...
Para a surpresa de todos, algo inesperado havia finalmente acontecido.
Cecília abrira os olhos.



